Brincar a sério

22.9.06

Uma criança com 3,3 milhões de anos

Uma criança com 3,3 milhões de anos Era bípede, mas provavelmente vivia uma boa parte do tempo nas árvores, e o mais certo é que não usasse ainda a linguagem, no sentido da fala humana. Viveu há 3,3 milhões de anos, era possivelmente uma menina e morreu quando tinha apenas três anos. Descoberto há seis anos, o seu esqueleto fossilizado só agora começa a revelar os segredos. A ciência avança, e cada vez nos damos menos conta disso. Discute-se futebol, política, telenovelas, mas de cultura estamos a zero. Antropologia e Arqueologia, temas deveras interessantes, escapam-nos como agua entre os dedos. Mas não só, por norma ignoramos todas as formas de cultura. Cultura relacional, Ciência do relacionamento humano, é cada vez mais uma utopia. Os relacionamentos actuais são hoje praticados através de telemóvel e pouco mais. Quando frequentei a Escola Francisco de Arruda, na Ajuda, ia e regressava de comboio, todos a bordo se conheciam, embora morassem a c… de distancia uns dos outros. Em pouco mais de 30 anos, o quadro mudou de aspecto, e hoje os viajantes daqueles comboios, mais parecem robots ou pior ainda, bonecos sem vontade própria. Culpa da caixinha que mudou o Mundo? Talvez, mas as vontades também o quiseram. A ganância e a inveja forjaram caracteres, moldaram espíritos. Actualmente vive-se uma vida triste, virada para dentro de nós próprios, onde cada um parece ser peça única sem encaixe no próximo. Assim fechados nas nossas casquinhas, estamos perto de atingir o isolamento irreversível. Repare-se o que já acontece nos centros urbanos mais modernos, onde se passa todos os dias pelas mesmas pessoas mudas e continua-se mudo, sem sequer desejar um Bom Dia, quanto mais não seja para termos a convicção que para nós também irá ser. A quantas crianças irá acontecer ficarem no anonimato, tal como a descoberta feita?

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